30 abril, 2025
GONÇALO M. TAVARES
Hoje a minha colaboração com João Carlos Carranca, na Rádio Portimão, apresentando um livro fora da caixa de Gonçalo M. Tavares.
28 abril, 2025
26 abril, 2025
Gathering supercars
Manhã cheia de sol e animação. Serviu para refrescar os olhos e ensurdecer os ouvidos, lembrando que este carrinho laranjinha Lamborghini continua a fazer estragos no meu coração.
25 abril, 2025
24 abril, 2025
O que seduz os saudosistas e aqueles que já nasceram após a revolução?
Lembro que antes do 25 de Abril eramos um país de remediados, frustrados e infelizes.
As classes
socias dividiam-se assim: os pobres, os remediados, que eram um pouquinho menos
pobres e os ricos.
Havia fome,
analfabetismo e uma esperança de vida curta. A maioria das aldeias não possuía água,
nem electricidade. O esgoto era uma estrumeira. O Porto e em Lisboa tinham ilhas
e bairros de lata onde vivia muita gente pobre.
A escolaridade
obrigatória era até a 4ª classe para os rapazes e 3ª classe para as raparigas.
A ignorância e o obscurantismo tinham muito sucesso. Mas se não fossem à escola
também não havia problema, porque um povo analfabeto e ignorante é mais fácil
de governar. A pedagogia era a da palmatória, ou aprendes a bem ou a mal.
Havia crianças
com pai incógnito. Havia crianças e adultos descalços na rua. Havia crianças
com passaporte directo para o céu.
Centros de
saúde e médicos de família ainda não tinham sido inventados.
Não existiam
subsídios, nem férias.
Ninguém ia de
férias para as Maldivas, para o Mediterrâneo e muito menos para a Tailandia. Os
remediados iam até à Póvoa de Varzim, porque o médico aconselhava por causa do
iodo.
As mulheres
casavam para obedecer aos maridos e apanhar se fosse o caso.
Ai sexo antes
do casamento! As mulheres que perdiam a virgindade antes do casamento, perdiam-se
também no mundo, porque eram consideradas prostitutas. O rapaz atrevido ainda
levava nas bentas, dos irmãos ou do pai.
Pílula e
planeamento familiar eram quase inexistentes. Epidural? Ainda não tinha sido
inventada, até porque sofrer no parto, fazia parte do processo. Aborto? Sim clandestino,
sem higiene e morria-se sem culpados.
Quem não ia à
missa, ou não cumpria com os rituais, era um pouco marginalizado na sociedade.
Os homens
faziam serviço militar e iam para a guerra. Alguns regressavam dentro de um
caixão (supunha-se, porém, numa guerra ninguém andava a recolher cadáveres). Os
que não queriam ir para a guerra, eram desertores e tinham de fugir do país e
nunca mais voltar.
Televisão,
telefone e rádio era só para alguns.
Racismo? Sim.
Ciganos? Eram população nómada, que pedia de terra em terra, sem direitos.
Das frutas
tropicais só se conhecia a banana e o ananás, que se vendiam a preço
exorbitante.
Festas… Que festas?
Festivais? Quantos? A festa era uma vez por ano e religiosa.
Nesse tempo não
havia homossexuais, toxicodependentes, nem trans disto e daquilo. Havia raquíticos,
aleijados, histéricas, prostitutas, maricas, pedintes e malucos.
Ir ao
cabeleireiro… talvez uma vez por ano. Manicure… nem existia.
Quem andava no
ballet, na natação ou no karatê? Meia dúzia, filhos dos ricos.
Morria-se cedo
e sobrevivia-se cheio de carências. Alguns para estudar tinham que ir para
seminário. O conhecimento estava vedado à maioria das pessoas pela pobreza. Ter
um filho a estudar na escola secundária era um luxo.
Lavava-se a
roupa no rio, e utilizavam os animais para ajudar nas tarefas de carga.
Passava-se a ferro com um ferro com brasas. E frigorifico? Naaa!
O aquecimento
central era uma braseira ou uma fogueira, e uma botija de água quente dentro da
cama.
Operários e
lavradores não tinham carro, quando muito tinham uma bicicleta ou uma motoreta.
Quando existia
um desarranjo intestinal, não havia Ultralevur, levavas com a cânula de um irrigador
naquele sítio. O penico era um objecto com muita saída, se não quisesses ir ao
monte.
Éramos um povo
muito conformado com a miséria, porque quem reclamasse era espancado, torturado,
preso e com frequência desterrado. Todos
acreditavam, que para o bem ou para o mal, era a vontade de Deus.
E quem não
estava bem, tinha que se mudar, de forma clandestina e arriscada, passando a
salto a fronteira de Espanha, sujeito a ser morto ou preso, sem regresso.
Quem possuía um
maior conhecimento e aspirava a uma vida melhor, tinha que fechar a boca.
Os artigos dos
jornais e os livros eram censurados facilitando assim a ignorância e o
conformismo.
Nas ex-colónias
as facetas da vida eram um pouco diferentes e talvez mais complexas, mas só o
facto de não existir inverno já ajudava a malta. Haveria aparentemente mais
liberdade e melhor qualidade de vida, se tinhas a sorte de não viver num
musseque, caso contrário, vira o disco e toca o mesmo.
Será isto o que
seduz os saudosistas e aqueles que vão na conversa dos primeiros?
ALGUÉM DUVIDA QUE HOJE, TODOS VIVEMOS MELHOR?
AQ
O 25 DE ABRIL NUNCA SE ADIA
23 abril, 2025
Agostinho da Silva, um poeta à solta
Agostinho da Silva, um poeta à solta
“Não há liberdade minha, se os outros a não têm.”
Apesar de me considerar
uma pessoa atenta, o meu primeiro contacto com Agostinho da Silva foi através
da televisão - no programa “Conversas Vadias”, transmitido pela RTP1 em 1990,
quando ele já tinha 84 anos. O nome do programa era apelativo e inspirador e de
imediato captou a minha atenção. Este programa estruturava-se numa simples
entrevista a Agostinho da Silva, realizada por várias personalidades a saber, Maria Elisa, Adelino Gomes, Joaquim Letria, Alice Cruz, Baptista Bastos, Herman
José, Miguel Esteves Cardoso, Manuel António Pina, Joaquim Vieira, Maria Isabel
Barreno, Cáceres Monteiro e Fernando Alves. Totalizaram treze entrevistas. Estas
sessões televisivas tornaram-se imediatamente populares, devido à actualidade daquilo
que partilhava esta singular figura e do seu pensamento.
Quem era o estranho individuo
que todos queriam entrevistar e só eram seleccionados entrevistadores de
gabarito, personalidades conhecidas do meio artístico, literário e académico,
nacional, que só eles já despertariam o interesse aos telespectadores?
George Agostinho
Baptista da Silva, nasceu na freguesia de Bonfim, na cidade do Porto a 13 de
Fevereiro de 1906, foi um filósofo, pedagogo, poeta e ensaísta português.
Apontado como um dos grandes pensadores portugueses do século XX, conhecido pelas
suas reflexões sobre a educação, a liberdade e a identidade cultural.
Realizou um percurso
académico notável e excepcional, Agostinho da Silva concluiu a licenciatura em
Filologia Clássica, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com 22
anos e o doutoramento com 23, ambos com 20 valores. Esteve em Paris como
bolseiro onde, desenvolveu estudos na Sorbonne e no Collège de France. Foi colaborador
da revista Seara Nova até 1938, conferindo-lhe um “péssimo currículo” para
trabalhar no ensino superior, durante o Estado Novo; foi professor no ensino
secundário em Aveiro, até ao ano de 1935, altura em que foi demitido do ensino
oficial por se recusar a assinar a Lei Cabral, que obrigava todos os
funcionários públicos a declararem por escrito, que não participavam em
organizações secretas (e como tal subversivas). No mesmo ano, conseguiu uma
bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha e foi estudar para o
Centro de Estudos Históricos de Madrid. Em 1936 regressou a Portugal por estar
eminente a Guerra Civil Espanhola.
Foi preso pela polícia
política em 1943, ficando 18 dias no Aljube e obrigado a residência fixa. Em
1944, Agostinho da Silva imigrou para a América do Sul, naturalizou-se
brasileiro em 1959 e regressou a Portugal em 1969 após a doença e morte de
Salazar e a sua substituição por Marcelo Caetano. Desde essa data, já
aposentado como professor universitário no Brasil, continuou a dedicar-se à
escrita e dirigia paralelamente o Centro de Estudos Latino-Americanos da
Universidade Técnica de Lisboa e desenvolvia consultadoria do actual Instituto
Camões. Em 1992 retomou a nacionalidade portuguesa e faleceu a 4 de Abril 1994.
Este Agostinho da Silva
que conheci pela televisão apresentava-se ancião activo, vestido com
simplicidade e informal, tal como era o seu discurso fluído, mas que emanava
profundo conhecimento erudito sobre o Homem e a sociedade. Ouvi-lo era
desafiante, multidimensional, surpreendente e transformava sempre algo em nós –
hoje dir-se-ia que era um grande “influencer”. A sua personalidade
manifestava-se polifacetada, ousada, acutilante, perspicaz e desconcertante,
por isso atraia ouvintes de todas as idades. Apresentava uma retórica
argumentativa, sabiamente alimentada pela perspicácia e por uma fina ironia,
que inquietava, desafiava e mobiliza para a mudança.
A entrevista,
considerada mais impactante e memorável, é a conversa com Adelino Gomes, sobre
a Liberdade e o Destino, que acabei de rever e motivou-me para a escrita deste
texto, porque continua surpreendente e interessante o seu pensamento sobre a
liberdade, Camões, Padre António Vieira... As entrevistas podem se visionadas
na RTP arquivos e todos deveriam conhecer ou rever.
Uma das suas principais
contribuições filosóficas é a ideia de que a educação deve ser um processo de
libertação e auto-conhecimento, enfatizando a importância do desenvolvimento
integral do ser humano. Ele acreditava que a verdadeira sabedoria vem da
experiência e do diálogo, e não apenas da acumulação de conhecimentos académicos.
Ao nível da Educação, na sua essência, a obra científica e magistral de
Agostinho da Silva assenta numa mesma matriz conceptual e alinha por um mesmo
sentido: o do compromisso com a vida, com a humanidade e com a pessoa.
A vida de boémio, que
levou no Brasil, muito contribuiu para que descuidasse as suas
responsabilidades parentais, e o levasse a ter filhos que acabaram por ficar
registados no bilhete de identidade com pai incógnito.
Curiosamente a sua segunda
companheira, Judith Cortesão era filha de outra figura ilustre da literatura,
Jaime Cortesão. Desta relação resultaram 8 filhos, dois deles adoptados.
Sobre a sua obra já não
teremos tempo para a ler toda, pela dificuldade da recolha e pela extensão da
mesma. Publicou mais de duzentos títulos em Portugal e no Brasil e centenas de
Cadernos de Divulgação Cultural. A sua filosofia saiu do universo dos livros,
dos ensaios e dos grandes eixos culturais e proliferou em palavras, conversas, debates,
reflexões e dissertações, enriquecendo de forma activa, presente e dialogante, a
lusofonia. Vejam ou revejam as “Conversas Vadias”.
Faz parte da memória de
muitos, esta frase: “o homem não nasce para trabalhar, nasce para criar, para
ser o tal poeta à solta". Hoje gostaria de poder ouvir Agostinho da Silva
a dissertar sobre a Educação/ Internet e sobre esta Guerra, que está a pôr a
Europa confusa e disruptiva.
Publicado em NVR 23|04|2025
"ESTÓRIAS NO MAÇADOIRO" - Anabela Quelhas
Hoje Dia do Livro apetece-me partilhar que tenho mais um
livro na tipografia, apoiado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Norte, Instituto Público – Norte Pontual e União das Freguesias de
S. Tomé de Castelo/Justes.
Um livro construído por 99 histórias que reforçam a
identidade de um sítio.
21 abril, 2025
à espera do verão
Não espero por Godot
Quero dias ensolarados e noites amenas, com ou sem lua. Desejo mar a enrolar na areia, e aquele por do sol inesquecível, que vira poema.
Jacuzi é bom, mas não é a mesma coisa...
19 abril, 2025
18 abril, 2025
17 abril, 2025
16 abril, 2025
Comemorando Abril
Comemorando Abril
Em processo de seleccionar poemas para o programa de rádio “De poeta e
de louco todos temos um pouco” que passa na rádio Universidade FM, lembrei a
música de Chico Buarque da Holanda, TANTO MAR, que todos conhecerão certamente.
Os ecos da revolução de abril de 1974 em Portugal chegaram de várias
formas à música brasileira - um olhar, à distância, sobre os ecos que lhe
chegavam de um país em transformação. A música "Tanto Mar", de Chico
Buarque, realmente é um marco importante na música brasileira e reflecte as
complexidades das relações entre o Brasil e Portugal durante um período
conturbado da história. Curiosamente esta canção, possui duas versões, captura
as esperanças e as frustrações de um momento de transição tanto em Portugal como
no Brasil.
A 1.ª versão é inspirada na Revolução dos Cravos e está datada de 1975.
O Brasil ainda vivia o regime de ditadura militar, a letra expressa uma
saudação ao novo regime democrático que emergia em Portugal após o 25 de abril
de 1974, mediante uma revolução pacífica que derrubou um regime ditatorial de
longa data. Para os brasileiros, que viviam sob a repressão da ditadura
militar, essa letra ressoava como um eco de liberdade e esperança, também para
eles.
A
letra, inteligentemente escrita, mas muito simples, reflecte o desejo de
liberdade compartilhado. É por esse motivo que, no Brasil, a letra desta música
foi censurada.
A 2.ª versão data de 1978, a letra desta versão reflete uma mudança de
tom. Aqui, Chico Buarque faz uma crítica subtil ao desenrolar dos eventos em
Portugal, especialmente após o 25 de Novembro de 1975, quando a revolução
começou a perder força e a instabilidade política se acentuou. Essa nova versão
é marcada por um cepticismo e uma percepção de que a democracia ainda era jovem
e frágil e que os desafios continuavam.
É interessante compararmos a letra. Aqui em Portugal a maioria conhece
apenas a 1.ª versão. Assim lado a lado poderemos verificar que foram dois momentos
muito diferentes prevalecendo o primeiro como a grande mudança.
A comparação entre as duas letras revela não apenas a evolução do
contexto político em Portugal, mas também ilustra como a música pode ser um
testemunho das esperanças e desilusões de um povo. Enquanto a primeira versão é
um brinde à liberdade e à possibilidade de um futuro melhor, a segunda revisita
a realidade de que a luta pela democracia é complexa e repleta de desafios.
15 abril, 2025
14 abril, 2025
13 abril, 2025
Hoje é dia do beijo
Hoje é dia do beijo
Ninguém quer ouvir que beija mal.
Como sabemos que beijamos bem?
Como podemos ter a certeza?
Normalmente, a pessoa que está sendo beijada mal sofrerá em
silêncio, com medo de ferir os sentimentos do outro.
Se o beijo for bom, certamente será eterno e levar-me-á até
Cassiopeia. Será recordado e comparado em muitas situações e com muitos outros,
saindo sempre vencedor.
Cada um saberá secretamente de quem recebeu o melhor beijo
do mundo.
Segundo O'Neil é a força sem fim de duas bocas.
11 abril, 2025
«Quis saber quem sou»
INESQUECÍVEL
«Quis saber quem sou» foi exatamente a primeira frase de
pendor revolucionário do início da democracia em Portugal, ouvida ainda a 24 de
abril de 1974, às 22 horas e 55 minutos, nas ondas dos Emissores Associados. O
primeiro verso da canção “E Depois do Adeus”, pleno de questionamento
individual e coletivo, cantado por Paulo de Carvalho, marca o momento histórico
do arranque da revolução, tornando o que era pouco mais do que uma canção de amor,
num símbolo da liberdade.
A meio caminho entre o concerto e a peça de teatro, “Quis
saber quem sou — um concerto teatral” pretende revisitar as canções da
revolução, as palavras de ordem, as cantigas que são armas, mas também as
histórias pessoais das gerações que fizeram o 25 de Abril, trazendo para o
palco jovens atores/cantores, escolhidos numa audição a nível nacional, e
colocando nas suas vozes e nos seus corpos de hoje, e do futuro, a memória das
palavras da liberdade.
Concepção, texto e encenação: Pedro Penim
10 abril, 2025
NOTAS DE ESPERANÇA - concerto
O MEU PREFERIDO JOHANN SEBASTIAN BACH.
70 minutos num concerto de órgão de tubos. É um privilégio
na minha vida que usufruo todos os meses.