31 outubro, 2008

MANIFESTAÇÃO


OS PROFS VOLTAM À RUA UNIDOS!

29 outubro, 2008

Slow sculture




"Não era terça-feira, nem quarta-feira, e não eram certamente 02:32 , quando o telefone tocou na casa dela.
Ela estava no meio de uma fotomontagem construida na parede, é por isso que ela não poderia usar o telefone.
Naquela noite, ela tinha decidido ir ao cinema e - porque ela não tinha um atendedor de chamadas, ela nunca iria descobrir quem a havia solicitado nesse dia.
Foi a diferentes eventos que foram concedidos para decorrer em simultâneo, afinal, ela estava a viver numa cidade.

Procurou-a noutras ocasiões, mas na verdade nunca a encontrou.
Seria viável o seu dia-a -dia ser afectado pela construção civil que cresce como bolor por toda parte? - A certeza de que cavando no solo que se iria desvendar uma série de estruturas ocultas e vestígios de épocas e cidadãos já esquecidos, apresentando vestígios de alguém que havia estado lá antes, montando uma outra perspectiva no espaço tempo. - Traços, que ligam outra vez, no espaço e no tempo a um outro espaço. - Vestígios de alguém que viu os mesmos raios de sol fazendo seu caminho através da madrugada, ouviu o murmurar das mesmas árvores, cheirando o mesma ar bolorento dos elevadores e das escadas rolantes, no subsolo, alguém que tocou a mesma parede, o mesmo andar . - O mesmo livro ou mesmo o vidro. - Contribuindo para uma lenta escultura chamado cidade, um espaço entre indivíduos dentro de um material, algo imaterial.
Os objectos formados dentro de uma ampla escala de tempo, criam um arquivo em constante mudança. Definem o seu espaço onde a chuva cai ou constrói um telhado contra ele. Quer através de fluxos de um espaço ou espaços, flui através deles.
Se não há mais espaços, é porque a urbanidade engoliu todos eles, então, pelo menos, lá estarão contando histórias sobre eles. E se as notícias não forem muito más, assim não há necessidade de esquecê-las.
Cada história cria seu próprio espaço, e também cada espaço é um transportador de histórias.
E, em seguida, foi segunda-feira."
Aron IItai Margula (AUSTRIA), Shimon Takasaki (AUSTRIA), Eva Christina Sommeregger (AUSTRIA)
Vencedor do TOP 10 PROJECTS
Bienal de Veneza 2008

28 outubro, 2008

on line competion - Mirco Peron



"Num futuro próximo, antes do fim dos recursos da terra, as pessoas terão de se voltar para o conceito de comunidade, como nas polis gregas. Uma comunidade com sustentabilidade energética independente, de produtos alimentares e também reutilizando os seus resíduos.
A comunidade que utiliza tudo que produz como a velha quinta do passado, fará com que as pessoas vivam em paz, em comunhão com a natureza.
Qual o verdadeiro sentido de uma comunidade?
Esta é a pergunta ... quando algumas pessoas podem ser consideradas uma comunidade?
A coisa mais importante para uma comunidade é a sua história, e transmissão do seu património pelas pessoas e as gerações seguintes. "
mirco peron (ITALIA)
more than UTOPIA - menção honrosa

on line competion
TOP 10 PROJECTS
Bienal de Veneza 2008

27 outubro, 2008

26 outubro, 2008

Bienal de Veneza - Estónia




Na Bienal de Arquitectura em Veneza 2008, que decorre até ao dia 23 de Novembro, o pavilhão da Estónia é imperdível.

Os sessenta e três metros de comprimento do tubo de gás chamam a atenção para Nord Stream, o projecto polémico Gazprom de um gaseoduto entre a Rússia e a Alemanha. A tubulação seria executado ao longo do leito marinho do Báltico, o que poderá ter grandes implicações políticas e ecológicas para os países vizinhos.

Gaasitoru / Gas Pipe coloca na ordem do dia os factores que determinarão a forma como a arquitectura se comportará no século 21: beleza ou energia?

24 outubro, 2008

PAI NOSSO


Pai Nosso actual

Hey brother que tás no alto

Não sejas cota não sejas ralha

Aceita no teu reino a maralha

Tas a ouvir Man?

Yo

Dá-nos os morfes do dia a dia

Desculpa lá qualquer coisinha

Qu'a gente perdoa-lhes também

Livra-nos do mal, livra-nos da bófia

Tu tens o power

Tu tens a glory

Agora Man

Para sempre Man
Fica cool

Tasse bem

Yo

22 outubro, 2008

kukuxumusu





MAIS CINCO DA COLECÇÃO KUKUXUMUSU

21 outubro, 2008

Bairro Operário

Respondendo ao desafio de um dos leitores do Pensar e Falar de Angola, escrevi este texto que é apenas uma análise pessoal da evolução histórica do Bairro Operário, localizdo na cidade de Luanda, Angola, que certamente conterá incorrecções.

Foi publicado em

"O Bairro Operário da cidade de Luanda situa-se a noroeste do centro da mesma, enquadrado na malha urbanizada, formada pelos acessos asfaltados, na cidade de cota alta, num plateau privilegiado tanto ao nível da visibilidade para o mar e porto de Luanda, como ao nível da salubridade, zona fresca e arejada.

A sua morfologia sempre foi plana, sem qualquer relevo aparente, de chão feito de areia quente e vermelha.

Não conheço qualquer documento cartográfico anterior à década de 50, que indique os seus limites primitivos; Estima-se que ele exista desde o século XIX, acolhendo negros provenientes do Norte de Angola, no entanto a ocupação por cubatas, na parte alta das denominadas “barrocas” surgem em documentos do século XVI.

Numa planta do século XIX, quando "Luanda" ainda se escrevia com "o", vem já assinalado o Bairro Operário na parte superior do grande declive morfológico assinalada por Kipakas. No desenho urbano da cidade, aparece nas plantas dos anos 60 e 70, como espaço engolido pela expansão da cidade, nos seus eixos radiocentricos.




Foram traçadas as grandes avenidas que além de afirmar o seu radiocentrismo, tinham a particularidade de unir relevos distintos, a cota ao nível do mar, às cotas mais elevadas e mais distantes da baía de Luanda.

O desenho urbano de expansão avançou certamente à força da régua e esquadro, sem qualquer preocupação sobre quem ocupava o território, dando continuidade aos canais de acesso à cidade antiga, em direcção ao Cacuaco, Catete e Barra do Kuanza, mas com o triplo da largura onde esta teria sido medida, pela dimensão da manobra de inversão de marcha de uma espaçosa Dodge (isto sou eu a pensar…mas não sou suficientemente conhecedora de veículos de 40 e 50).


Assim terá sido traçada a antiga Av. Paiva Couceiro (ver planta - traço a verde), que tal como o militar, invadia territórios de terra vermelha, formava uma barreira inequívoca a qualquer alargamento do Musseque Bairro Operário, para sudeste, auxiliada pela quase paralela António Enes (rosa), localizada mais sobre o mar, estrangulando assim aquele pedaço de areia catingosa e vermelha, onde obviamente viviam angolanos de origem negra, os chamados indígenas.
Para que não restassem dúvidas, ao longo desses novos acessos foram implantados edifícios com cérceas de 5, 6 e 10 pisos.


Para rematar o tal plateau, ou terraço virado para o mar, com vista para o porto de Luanda, Ilha e oceano, considerado um ponto de visão geo-estratégica, e para conter ou eliminar os acessos pedestres e rápidos existentes, ao porto de Luanda, e à linha ferroviária, localizada na cota inferior, planeou-se um anel bem urbanizado de vista panorâmica ocupado pelas classes sociais mais elevadas e deu-se-lhe o nome de Miramar (circulo azul).O lado sudoeste era bem vincado o limite e a diferença com o Bairro do Café.


O limite do lado do Bairro de S. Paulo era pouco rigoroso, interpenetrando-se mutuamente, mas com o clero a marcar presença e limite no território do musseque – igreja de S. Paulo e a sua Missão (laranja).Todas estas manobras urbanísticas ilustram bem como se controla no território, as possíveis oposições políticas, ou o nascimento de qualquer revolta popular. A técnica é o esmagamento, o estrangulamento, a asfixia, a paralisia das vontades através do asfalto:
_ Não mata mas não deixa mexer.

Aliás técnica que os urbanistas de Salazar aplicaram com mestria em território continental, especialmente nas ilhas e outros bairros camarários da cidade do Porto, incómodos pela concentração da população operária insatisfeita.
O desenho apresentado em planta do BO (tratamento carinhoso e simplificado deste musseque) não corresponde ao desenho existente no local, durante os anos 60. Nessa época era um Musseque virado para o seu interior, onde houve a preocupação de o dividir e rasgar na sua parte central por um grande acesso, que possibilitava o patrulhamento pela Policia Militar Portuguesa, assegurando níveis de segurança aceitáveis para os colonos portuguesesNos anos setenta, de musseque engolido passou a bairro assumido como imagem de tolerância e misceginação que convinha a Marcela Caetano.
De musseque esmagado passou a musseque integrado na malha urbana, espelho da tolerância dos portugueses e do bom convívio entre raças e origens, passando até por um bairro bem organizado para quem visualizasse a planta da cidade. Não sonhando ainda com um google earth, só sobrevoando Luanda ou apreciando a vista de um edifício mais alto se tinha a visão completa do bairro e de que tipo de integração se tratava.No inicio de 70, iniciou-se um plano de urbanização que avançou com alguns blocos de apartamentos nas franjas do musseque virado para o Miramar, com o objectivo de retirar a “nódoa” do Musseque BO da mallha urbana.
Um dos seus limites era visível das embaixadas/consulados dos países estrangeiros que entretanto abandonaram a baixa da cidade e se transferiam para a cidade alta e proliferavam pela zona do Miramar, o que perturbaria a digestão dos srs embaixadores, tendo como vizinhos as cubatas do BO, ou míseras construções de madeira com coberturas de zinco.
Os interesses especulativos existentes naquele local da cidade terão sido também uma grande pressão para acabar com o BO, no entanto a imagem de colonizadores tolerantes tinha diversos partidários e acabou por germinar um paradoxo que se concretizou pelo prolongamento do tempo de vida do BO.Assim sobreviveu o BO.
Não morreu, sobreviveu sempre fortemente controlado – sem água, sem saneamento básico, sem escoamento de águas pluviais, sem ruas asfaltadas, sem condições de habitabilidade e iluminado em pontos estratégicos.
Ao sábado os tambores gemiam pela noite fora no compasso do bater de coração engaiolado. Seriam os N’gola Ritmos seriam outros?
Mal raiava o sol, as quitandeiras dirigiam-se para direcções opostas, ou Kinaxixe ou Mercado de S.Paulo, embrulhadas nos seus panos com a criança mais nova às costas.
É neste BO que nasce uma consciência politica de gente colonizada, e onde germinou a luta anti-colonial, onde viveram figuras importantes dessa luta, Agostinho Neto por exemplo, e por isso em 1961 foi cercado por militares.
Mas já na década de 50 que este bairro era o alvo visado pela policia politica portuguesa (PIDE) pois continha uma forte actividade politica, cultural e de reuniões clandestinas, culminando por vezes com diversas prisões.
É também neste BO onde as negras e mulatas se prostituíam a todas as horas dentro das cubatas com ou sem porta, procuradas pelos militares portugueses, que depois ou antes do prazer, já alcoolizados, se envolviam constantemente em rixas que terminavam muitas vezes no posto da policia.
Entre ais e uis de prazer puramente carnal, para além do vazamento dos fluidos corporais, sonorizavam-se outros fluidos encarnados duma outra substância: A INFORMAÇÂO.
É este o bairro emblemático de Luanda que servirá de suporte à maior transformação da sua vida, numa operação urbanistica aguardada neste século XXI, que acabará de vez com o musseque e entrará na era do betão armado e do condomínio fechado, apagando todos os vestígios, mesmo aqueles que fazem parte da história da independência do território angolano.
Preparem-se!
anabela quelhas

18 outubro, 2008

são pobres muitos

Vale a pena abrir

VEJA COMO FOI ESTAR EM PEQUIM.

Após carregar a foto, clique na foto e arraste para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita, girando e parando aonde quiser.


http://www.karikuukka.com/peking2008/100m/

16 outubro, 2008

15 outubro, 2008

FUTURE PLACES

http://colab.ic2.utexas.edu/futureplaces/workshops/

O Programa UT AustinPortugal (CoLab) abriu as inscrições para o Festival de Média Digitais FUTURE PLACES, que terá lugar de 7 a 19 de Outubro, na cidade do Porto, assim como as candidaturas para o Programa associado de Residências Criativas.

Nos dias 7 e 8 de Outubro, o Festival será inaugurado com um conjunto de workshops com agentes-chave da comunidade internacional dedicada aos novos media com modelos de investigação, criação e aplicação para os media digitais.

13 outubro, 2008

12 outubro, 2008

11 outubro, 2008

Cartazes de RAFAL OBLINSKI

Cartazes sublimes dedicados a publicitar ópera. 5 estrelas! Cada um é uma perfeita obra de arte.
Observem a delicadeza deste (acima) - duas escalas na mesma imagem, o leque a converter-se numa escadaria. Perfeito!






08 outubro, 2008

Alon Meron


Design interactivo

07 outubro, 2008

Musseques de Luanda


Musseques de Luanda

A cidade de Luanda concentra 3 cidades:

1 - A cidade "colonial" - centro administrativo, dos negócios e urbanizada antes de 1974.

2 - Os musseques - onde moram a maioria dos citadinos.

3 - Os subúrbios de luxo.


OS MUSSEQUES DE LUANDAA palavra musseque tem origem no kimbundo (mu seke) e significa areia vermelha.A um dado momento, musseque, passa a designar os grupos de palhotas, que se adensam no alto das barrocas e que por semelhança à SEKE (vermelho ocre) toma o nome do material (areia) sobre o qual se implantam. O seu desenvolvimento está intimamente ligado ao da cidade propriamente dita.

A partir de 1962, a febre da construção civil e o lançamento da indústria, fascina cada vez mais as populações rurais que abandonam os seus locais de origem e migram para a cidade grande, Luanda. Estas gentes instalam-se nos musseques e reagrupam-se segundo as suas origens.

Os musseques passam a designar o espaço social dos colonizados, assalariados, reduto da mão de obra barata e de reserva, ao crescimento colonial, colocados à margem do processo urbano, surgindo como espaço dos marginalizados, e cuja fisionomia está em constante transformação.

Em 1974, Luanda conta com quase meio milhão de habitantes onde se inclui 340.000 africanos. Nessa época, na planta da cidade, já se podem distinguir três grandes zonas de musseques, organizadas segundo as principais linhas de expansão da cidade:

- A este - localizam-se os musseques mais antigos, Sambizanga, Mota, Lixeira, Marçal, Rangel (o mais populoso), Adriano Moreira e Cazenga (o mais extenso).

- A sul - Calemba, Cemitério Novo e Golfe.

- A sudoeste - Catambor e Prenda, este último "premiado" no início da década com um arranhacéus de betão.

No meio da cidade nova e completamente engolido pelas novas avenidas, e respectivas construções, localiza-se o pequeno B.O. (bairro operário).

O aspecto construtivo diferenciado surge de acordo com a origem dos seus habitantes, a sua ocupação e o grau de adaptação à cidade; existe sempre um traço comum - a organização do espaço.

O musseque é fechado sobre si mesmo, num entrelaçado complexo e orgânico de ruelas, "pracetas" e corredores. As ruas são estreitas, verdadeiros corredores ou espaços de passagem, com a largura de um homem, desconhecendo qualquer tipo de planeamento, respondendo apenas à possibilidade de acesso peatonal aos espaços mais reconditos do coração do musseque, ocupando apenas os pequenos espaços sobrantes entre cada construção. Estes corredores são delimitados pelas próprias construções e por vedações, sustentadas por estacas, e fechadas com diversos materias recuperados nos lixos e abandonados nas obras (lata e desperdícios), fazendo lembrar verdadeiras paliçadas, interrompidas por janelas e portas com as mesmas características.

A configuração caótica e fechada, favoreceu, a formação da personalidade e da identidade nacional no seio do povo, o desenvolvimento da resistência ao colonialismo e a construção de um espírito revolucionário, que tanto inspirou poetas, contadores de histórias e cantores populares.

A história tem confirmado ao longo do tempo (para mal de qualquer ditadura), que a densificação urbana permite a organização e a propagação de ideais revolucionários.

As recentes destruições causadas pela guerra civil, os massacres, e o exôdo das populações do interior, à procura de refúgio dos combates, transformam completamente o aspecto dos musseques de Luanda.

A população actual de Luanda é de 4,5 milhões de habitantes, perto dos 5 milhões - 8 vezes mais que em 1974 - provocando a exaustão da cidade, com ¾ da população a viver em musseques.

Ao longo de três décadas, os musseques deixam de ser bolsas da malha urbana Luandense, passando a grandes manchas disformes, ao redor do núcleo urbano, que foram crescendo desordenadamente, sem qualquer controle, ignorando qualquer determinação urbanistíca (não existe uma polítca de desenvolvimento urbano), absorvendo cada vez mais pessoas, e sem condições de salubridade.

A comuna N'Gola Kiluange, situada na área de Sambizanga tem uma população, estimada em 1994, de 125.000, com crescimento anual de 18%.

As casas, ou se preferirem, os espaços precários destinados à função de habitar, são construídas em adobe, com frágeis fundações, outras, não passam de barracas ou refugios improvisados; concentram-se junto das estradas, desadaptadas à morfologia dos terrenos de suporte, não resistindo por vezes às enxurradas da época das chuvas torrenciais e com esgotos a céu a aberto.

A inexistência de infraestruturas, redes de abastecimento de água, electricidade, recolha de esgotos, águas pluviais e de lixos, é uma constante ameaça à saúde pública - malária, tuberculose, cólera, hepatite, mortalidade infantil elevada, etc. - empurrando esta gente, esquecida e amontoada ao longo dos anos, para níveis de extrema pobreza.

Anabela Quelhas - 2006/07/21

04 outubro, 2008

TRABALHO DOS PROFESSORES

Sexta-feira, 19 de Setembro de 2008
Resposta a um comentário
Optei por colocar na página principal do blogue a minha resposta ao comentário de um anónimo (comentário relativo ao artigo intitulado «A propósito de “Acabou o facilitismo”»), porque o assunto tratado é muitas vezes discutido de forma leviana pelo senso comum e, também, ainda que mais subtilmente, pelo discurso político da Ministra da Educação.Segue o comentário do anónimo leitor e, depois, a resposta.
Comentário:«Este senhor professor parece que não gosta mesmo do governo. Vocês professores estavam é muito mal habituados, apareceu alguém que vos pôs na linha e agora estão muito zangados. O que os professores têm é falta de hábito de trabalho. São muitas férias. É muito descanso. É no Natal, é no Carnaval, é na Páscoa, é no Verão. Conhecem mais alguém que tenha tanto descanso? Quando se habituarem a trabalhar como os outros, já não vão ter tempo para protestar. Não gostam, mas tem de ser. Paciência. Trabalhinho, trabalhinho.»Anónimo (18/9/08)
Resposta
Caro anónimo indignado com a indignação dos professores,
Os homens (e as mulheres) não se medem aos palmos, medem-se, entre outras coisas, por aquilo que afirmam, isto é, por saberem ou não saberem o que dizem e do que falam.
O caro anónimo mostra-se indignado (apesar de não aceitar que os professores também se possam indignar — dualidade de critérios deste nosso estimado anónimo..., mas passemos à frente) com o excesso de descanso dos professores: afirma que descansamos no Natal, no Carnaval, na Páscoa e no Verão, (esqueceu-se de mencionar que também descansamos aos feriados e fins-de-semana). E o nosso prezado anónimo insurge-se veementemente contra tão desmesurada dose de descanso de que os professores usufruem e de que, ao que parece, ninguém mais usufrui.
Ora vamos lá ver se o nosso atento e sagaz anónimo tem razão. Vai perdoar-me, mas, nestas coisas, só lá vamos com contas.O horário semanal de trabalho do professor é 35 horas. Dessas trinta e cinco, 11 horas (em alguns casos até são apenas dez) são destinadas ao seu trabalho individual, que cada um gere como entende. As outras 24 horas são passadas na escola: a leccionar, a dar apoio, em reuniões, em aulas de substituição, em funções de direcção de turma, de coordenação pedagógica, etc., etc.
Bom, centremo-nos naquelas 11 horas que estão destinadas ao trabalho que é realizado pelo professor fora da escola (já que na escola não há quaisquer condições de o realizar): preparação de aulas, elaboração de testes, correcção de testes, correcção de trabalhos de casa, correcção de trabalhos individuais e/ou de grupo, investigação e formação contínua.
Agora, vamos imaginar que um professor, a quem podemos passar a chamar de Simplício, tem 5 turmas, 3 níveis de ensino, e que cada turma tem 25 alunos (há casos de professores com mais turmas, mais alunos e mais níveis de ensino e há casos com menos ¬— ficamos por uma situação média, se não se importar).
Para sabermos o quanto este professor trabalha ou descansa, temos de contar as suas horas de trabalho. Vamos lá, então, contar:
1. Preparação de aulas: considerando que tem duas vezes por semana cada uma dessas turmas e que tem três níveis diferentes de ensino, o professor Simplício precisa de preparar, no mínimo, 6 aulas por semana (estou a considerar, hipoteticamente, que as turmas do mesmo nível são exactamente iguais — o que não acontece — e que, por isso, quando prepara para uma turma também já está a preparar para a outra turma do mesmo nível). Vamos considerar que a preparação de cada aula demora 1 hora. Significa que, por semana, despende 6 horas para esse trabalho. Se o período tiver 14 semanas, como é o caso do 1.º período do presente ano lectivo, o professor gasta um total de 84 horas nesta tarefa.
2. Elaboração de testes: imaginemos que o prof. Simplício realiza, por período, dois testes em cada turma. Significa que tem de elaborar dez testes. Vamos imaginar que ele consegue gastar apenas 1 hora para preparar, escrever e fotocopiar o teste (estou a ser muito poupado, acredite), quer dizer que consome, num período, 10 horas neste trabalho.
3. Correcção de testes: o prof. Simplício tem, como vimos, 125 alunos, isto implica que ele corrige, por período, 250 testes. Vamos imaginar que ele consegue corrigir cada teste em 25 minutos (o que, em muitas disciplinas, seria um milagre, mas vamos admitir que sim, que é possível corrigir em tão pouco tempo), demora mais de 104 horas para conseguir corrigir todos os testes, durante um período.
4. Correcção de trabalhos de casa: consideremos que o prof. Simplício só manda realizar trabalhos para casa uma vez por semana e que corrige cada um em 10 minutos. No total são mais de 20 horas (isto é, 125 alunos x 10 minutos) por semana. Como o período tem 14 semanas, temos um resultado final de mais de 280 horas.
5. Correcção de trabalhos individuais e/ou de grupo: vamos pensar que o prof. Simplício manda realizar apenas um trabalho de grupo, por período, e que cada grupo é composto por 3 alunos; terá de corrigir cerca de 41 trabalhos. Vamos também imaginar que demora apenas 1 hora a corrigir cada um deles (os meus colegas até gargalham, ao verem estes números tão minguados), dá um total de 41 horas.
6. Investigação: consideremos que o professor dedica apenas 2 horas por semana a investigar, dá, no período, 28 horas (2h x 14 semanas).
7. Acções de formação contínua: para não atrapalhar as contas, nem vou considerar este tempo.Vamos, então, somar isto tudo:84h+10h+104h+280h+41h+28h=547 horas.
Multipliquemos, agora, as 11horas semanais que o professor tem para estes trabalhos pelas 14 semanas do período: 11hx14= 154 horas.Ora 547h-154h=393 horas.
Significa isto que o professor trabalhou, no período, 393 horas a mais do que aquelas que lhe tinham sido destinadas para o efeito.
Vamos ver, de seguida, quantos dias úteis de descanso tem o professor no Natal. No próximo Natal, por exemplo, as aulas terminam no dia 18 de Dezembro. Os dias 19, 22 e 23 serão para realizar Conselhos de Turma, portanto, terá descanso nos seguintes dias úteis: 24, 26, 29 30 e 31 de Dezembro e dia 2 de Janeiro. Total de 6 dias úteis. Ora 6 dias vezes 7 horas de trabalho por dia dá 42 horas.
Então, vamos subtrair às 393 horas a mais que o professor trabalhou as 42 horas de descanso que teve no Natal, ficam a sobrar 351 horas. Quer dizer, o professor trabalhou a mais 351 horas!! Isto em dias de trabalho, de 7 horas diárias, corresponde a 50 dias!!!
O professor Simplício tem um crédito sobre o Estado de 50 dias de trabalho. Por outras palavras, o Estado tem um calote de 50 dias para com o prof. Simplício.Pois é, não parecia, pois não, caro anónimo? Mas é isso que o Estado deve, em média, a cada professor no final de cada período escolar.
Ora, como o Estado somos todos nós, onde se inclui, naturalmente, o nosso prezado anónimo, (pressupondo que, como nós, tem os impostos em dia) significa que o estimado anónimo, afinal, está em dívida para com o prof. Simplício. E ao contrário daquilo que o nosso simpático anónimo afirmava, os professores não descansam muito, descansam pouco!
Veja lá os trabalhos que arranjou: sai daqui a dever dinheiro a um professor.
Mas, não se incomode, pode ser que um dia se encontrem e, nessa altura, o amigo paga o que deve.


http://www.oestadodaeducacao.blogspot.com/
Assino por baixo

03 outubro, 2008

Dennis McShade


Machado, Dinis - Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel Garcia Marquez, Bertrand, 1984
Machado, Dinis -
Mão Direita do Diabo, Colecção Rififi, D.Quixote, 1968
Machado, Dinis -
Mulher e Arma com Guitarra Espanhola, Coleccão Rififi, D.Quixote, 1968
Machado, Dinis-
O que diz Molero, Bertrand, 1977
Machado, Dinis-
Reduto quase final, Bertrand,1989
Machado, Dinis-
Requiem para D.Quixote, Colecção Rififi, D.Quixote 1968



O Que Diz Molero não foi o primeiro livro de Dinis Machado. Ou por timidez ou porque o nome britanico talvez vende-se melhor, assinava Dennis McShade.

Dennis McShade faleceu hoje.